Eu cheguei na Europa sem plano nenhum, sabia apenas que iria passar por Liverpool. Eu achei uma passagem barata de Toronto para Glasgow, na Escócia, e comprei. Pois é, eu não sou a melhor pessoa para dar dicas de viagem, por isso desisti. Eu sou aventureira, vou seguindo meu coração, abraçando o que aparece.
Mas como eu dizia, eu tinha uma certeza quando cheguei na Europa. Londres, Dublin e Liverpool estaríam no meu roteiro. Não interessa a ordem, entre a Irlanda e a Inglaterra, eu faria uma parada na cidade dos Beatles.
Antes de materializar esse desejo, meu coração me levou de Glasgow para Edimburgo. Depois o Brasil me chamou em Dundee e eu fui cuidada com um amor descomunal pela Christine, que também me levou para conhecer Saint Andrews. Foi tanta conversa e tanta cura com essa mulher incrível que o riso dela vai ecoar dentro de mim para sempre.
Eu passei apenas três noites em Liverpool, mas construí memórias lindas e imensas daquela cidadezinha britânica.
Foi o primeiro hostel desde que saí do Brasil. E hostel é aquela bagunça boa de conhecer alguém na recepção ou no caminho do banheiro e se jogar na noite com uma galera totalmente desconhecida.
Deixei os lugares dos Beatles, que eram a razão da minha passagem por Liverpool, para o último dia (gosto de alimentar o suspense às vezes). Depois de passear e conhecer quase todos os pontos turísticos da cidade, voltei para o hostel onde me hospedei nas duas primeiras noites e encontrei com uma alemã no quarto. Ela se apresentou e perguntou logo se eu iria sair para uma cerveja. Por quê não?
Saímos procurando o pub que fizesse o chamado. Sentamos numa grande praça cheia de bares e quando fui ao balcão mais próximo pegar a segunda rodada de cervejas, uma irlandesa doidaça me apresentou a namorada dela e um grupo de amigos e se ofereceu para pagar as duas cervejas. Chamei a alemã e gastamos uns 40 minutos com aquela turma. Tiramos fotos que eu nunca vi e partimos.
No caminho de volta, o chamado veio de uma janelinha na altura da calçada. Nos abaixamos para olhar e a coisa parecia animada. Não lembro o nome do pub, mas descemos as escadas, nos exprememos na multidão e encontramos um lugarzinho para dançar. Voltamos para o hostel gargalhando mas eu também não lembro uma palavra da nossa conversa nem o nome da alemã.
Na última noite me hospedei com duas estudantes polonesas pelo Couchsurfing. Tomamos vinho e eu superei uma barreira alimentar. Comer alguns tipos de legumes sempre foi muito difícil pra mim, desde criança.
Eu lembro de um dia que a vizinha me deixou sentada por quase cinco horas com o prato cheio de abobrinha refogada na minha frente e uma cinta ao lado do prato. Eu não queria comer de jeito nenhum. No final ela venceu, mas eu colocava as colheradas na boca e engolia sem mastigar com ajuda de água. Fazia ânsia. Uma lembrança terrível!
Adivinhem o que a Paulina fez para o jantar? Sim, abobrinha. Eu comi agradecendo pois era um jantar grátis no Reino Unido. Ainda não morro de amores por abobrinha, mas sei que não é assim tão ruim.
Depois de fracassar na panqueca que me ofereci para fazer em agradecimento pela manhã, segui para a estátua dos Beatles.
Não consigo descrever o que senti. Era muito louco estar ali depois de ter sonhado tanto com Liverpool. Eu tentava me colocar no presente. Tocava as mãos de bronze de Paul e John, mas não conseguia acreditar.Eu queria sentir mais, queria me fundir com a cidade, mas era impossível.
Sentei no chão e fiz meu post no instagram com toda a emoção que eu conseguia transmitir. Às vezes eu volto na foto e leio de novo. Ela não revela tudo o que a minha alma sentia naquele momento. Mas quando eu leio, eu lembro. E volto a agradecer.
Chorei sentindo a energia surreal dentro da Cavern Club, onde eles começaram a carreira, e agradeci por toda a dor que vivi no início do ano. Foi aquela dor que me impulsionou para viver esse sonho.